quarta-feira, 21 de abril de 2010

Envelhecer

Esta semana fui ao lançamento da nova coleção de jóias contemporâneas da elegantérrima Adriana Beigel, cliente que virou amiga. Somos da mesma faixa etária, mas, como Adriana viveu por mais de dez anos em Portugal, não nos conhecíamos embora tenhamos muitas amigas em comum.
Lá, em meio a lindas pedras, ouro, prata e peles, encontrei duas colegas de adolescência – da mais tenra fase da adolescência. Estudamos juntas no Positivo Jr. em meados dos anos 80, auge do pop rock. A dupla – de irmãs – era punk. Eu - que estava acompanhada de minha fiel escudeira e amiga desde então – era new wave. Minha amiga estava entre o punk rock e o new wave, pois namorava um roqueiro da turma delas.
De lá pra cá, apenas uma coisa mudou: não nos dividimos mais em tribos. Estávamos lá, ecléticas. Quase tão ecléticas quanto nossos filhos. Não se pode mais falar na turma disso ou turma daquilo. Os jovens são um mix de tudo-ao-mesmo-tempo-agora. Que bom! Não dá para saber se eles são do funk ou do reggae, sertanejo ou country, lounge ou hip-hop. De São Paulo, Curitiba ou Tóquio. Podem ser tudo isso e ainda vestir Levi´s.
Diferentemente da gente nessa idade. Lembro tão bem: quem usava Ocean Pacific era do surf e ponto final. Vestiu Fiorucci, era patricinha. E (que horror!), beijou na boca sem estar namorando, era galinha.
Mas, voltando à última terça. Lá estávamos nós, nos sentindo como se os anos 80 tivessem sido minutos atrás, nos achando tão jovens quanto éramos. Em menos de 15 minutos de conversa, percebemos que não somos mais modernas como um dia presumimos ser. A preocupação era a mesma. “Hoje eles fumam maconha com 12 nos. Aos 15 já querem saber de uma balinha”, diziam as amigas punks preocupadas com seus seis filhotes. “Pois é...”, repetíamos horrorizadas, as new waves mães de outros quatro.
Lembrei-me do meu pai reclamando - por trás de um risinho paciente - ser imprescindível em meu currículo musical conhecer a letra completa de La vie em rose, sob a minha afirmação veemente de que não me faria falta nenhuma tal conhecimento, já que eu seria new wave e só amaria B´52s a vida inteira. “Você pode até não gostar, mas tem de conhecer”, insistia.
Pois é. Fiquei velha. Continuo amando Private Idaho, mas adoro cantarolar La vie em rose. Estou, pacientemente, esperando a minha hora de dar aquele sorrisinho de meu pai. A pena é que, quando ele chegar, já terei muitas novas rugas – bem mais do que as poucas com que brigo hoje com meus trinta e todos.

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