quinta-feira, 2 de junho de 2011

Ela, implacável

Após alguns meses de apatia e completa incapacidade criativa, outra vez, a tristeza me faz escrever algumas linhas. O Carmenére chileno da bodega Concha y Toro, aberto em honra de minha amiga Maria Christina, ajuda... confesso.
Hoje, numa capela recheada de autoridades e personalidades fui me despedir de MChris... Surreal!!! Como assim? Inacreditável! Ela foi vencida?! Parecia impossível que algo abatesse Maria Christina de Andrade Vieira. Pois, a morte, implacável, chegou. E ela, serena, como sempre, cedeu.
Mais uma vez, Maria Christina surpreende a todos nós. Vai-se. Com a tranquilidade de sempre e com tudo planejado, roupa escolhida, trilha sonora etc dá adeus. A seu modo: nada de coroas, ou flores. Em vez disso, doações ao Hospital Erasto Gaertner. Ela adoraria saber que a Fundação HSBC prometeu vultosa soma em doações. Vamos ver...

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Essência



Este foi um mês de extremos. Vivi as mais intensas emoções de alegria e tristeza num breve espaço de três semanas. De um lado, me despedi de uma tia adorada e muito querida, que morreu precocemente, aos 69 anos, no dia 8. Ontem, dia 16, festejei com muita felicidade os 90 anos de minha avó materna.
Em meio à mistura de dois sentimentos tão distintos, pude concluir que a vida é muito curta e para o paraíso - aquele que imaginamos no céu - só vão aqueles que souberam amar e rir. Tenho fé, gosto de espiritismo, acredito em horóscopo, estudei em colégio de freira e carrego comigo uma interpretação particular daquilo que ouvi ao longo da vida sobre religião. Mas, uma das poucas constatações sobre a qual tenho certeza é que a vida eterna nada mais é do que a memória que deixamos para aqueles que estão vivos e, que eles passarão para seus descendentes.
Esta tia que se foi tinha o mais alto astral que já conheci. Dela ouvi as maiores bobagens, palavrões e histórias engraçadas floreadas por mentiras inocentes. Tivemos muitos e deliciosos Natais, como este da foto em que ela está de azul em frente à família aqui em casa. Também foi ela quem me ensinou a passar lápis preto nos olhos e nunca – JAMAIS – deixar o bocão sem batom. Quando menina, freqüentei por inúmeras temporadas sua casa de praia, onde aprontávamos todas e ao voltar pra casa, na madrugada ou depois do sol nascer, não podíamos ir dormir sem entrar em seu quarto e fazer uma breve síntese, ao pé da cama, de como tinha sido a noite. Queria saber de tudo. Quem beijou quem, como cada uma estava vestida, quem estava namorando na areia quando a maré subiu e o carro encalhou nas ondas etc. No dia seguinte contava, aumentando um ponto – dois, três, às vezes mais – todo o enredo outra vez, achando a maior graça.
Certamente serão destes momentos que eu, minha irmã, minha prima e nossas amigas vão se lembrar quando dela falarem. Não acredito que alguém vá dizer: “Ah... a tia que era inspetora de ensino aposentada, deu aula no Colégio Júlia Wanderley para os alunos da alfabetização, ou, tinha uma boa aposentadoria com a qual viveu dignamente até morrer”. Lembraremos daqueles espasmos de riso e gargalhadas que temos em meio à rotina e, no caso dela, eram muitos.
À mesma conclusão cheguei ontem ao ver - na TV de plasma que fazia parte da festança chique que produzimos - as muitas fotos de minha velha avó, que um dia foi elegante, linda, mulher daquelas bem chamativas. Aspecto marcante de sua personalidade que bem se nota na foto acima comigo e minha irmã numa festa...
Pedimos a todos da família que mandassem registros dela para gravarmos o arquivo de imagens. Pois lá estavam, muitas fotos de vovó de chapéu em aeroportos de Buenos Aires, San Francisco, Nova York. De casaco de pele em monumentos turísticos, no sofá inflável da casa de minha irmã em San Diego, de maiô comigo na piscina do Plaza Itapema, de sandálias Havaianas no tanque de sua casa na Praça Espanha, de turbante na cozinha em frente a panelões de feijoada, lentilha ou macarrão caseiro. O que ela fez na vida? Foi feliz. Chegou aos 90 anos, feliz e, por sorte ou genética, com saúde para agüentar o festerê que nós quisemos fazer para ela.
Escrevo sobre este tema, pois confesso estar morrendo de medo de deixar de lado momentos em que devemos viver nossa essência, para buscar a melhor estratégia para atender o cliente X, ou negociar bem o contrato com o prospect Y. Tenho certeza que dá tranquilamente para colocar aquilo que somos, no que escolhemos por profissão. Mas, se não der, melhor desistir deste trabalho, cliente ou função. Pois disso, ninguém vai lembrar mesmo.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Celebrare


No último final de semana, fui - com marido, filhos, babá, mãe, avó, cachorro e papagaio - para Mariscal, no litoral catarinense, para o casamento de uma prima. Após um bom tempo sem casamentos na agenda, a Caru (minha prima) resolveu casar-se com o Dadão (amigo de longa data meu e do Nemo).
Filha de mãe elegante, pai bacana etc e tal, eu não esperava que fosse diferente: o casamento foi na medida com tudo de bom, de lindo, de charmoso que uma festa dessas pode ter. Mas, o mais bacana de tudo foi a cerimônia, em si. Por incrível que pareça, não havia um cerimonial, ou roteiro pré-definido. A Caru queria casar-se ao pôr do sol. O Dado não queria protocolo. E assim foi.
Para que os convivas se sentissem num casório, fez-se um altar à beiramar, foi escolhido um caminho para que os noivos entrassem e seguiu-se a regra noivo/mãe, padrinhos e noiva/pai.
Mas, o surpreendente foi que após entradas, músicas de qualidade e todo mundo em volta, os irmãos, primos e amigos próximos pegaram o microfone e conduziram a cerimônia. Mais bonita do que qualquer outra que já vi. Encerrada por um beijo dos noivos, mas interrompida muitas vezes por salvas de palmas dos presentes. Isso sim, uma verdadeira celebração. Mais genuína e elegante, impossível!
Como é bom viver de verdade...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Ser moderno

Moderna é a Néia, costureira e quebra-galho da minha irmã. A Néia resolve mil pepinos de última hora, aceita trabalho no feriado, no sábado à noite, dá um jeito naquilo que a gente não consegue achar solução. Mas, mais do que tudo, mostrou na sua simplicidade óbvia – comumente encontrada nos seres inteligentes – que é muito moderna.
Pois, a Cris minha irmã chega na casa da Néia, ali nos arrabaldes do Parque Barigui e de Santa Felicidade, com uma demanda básica de costura para entregar no portão. Passa por elas um rapaz bonito, de moto, com seus vinte e poucos anos e dá um beijo na bochecha na Néia e adentra na garagem.
“É teu filho?”, pergunta, curiosa, já emendando um “que gato!”, na sequência do papo. Sem perder o fio da conversa a Néia comenta que todos os organizadores de eventos e parceiros gays da minha irmã também acham o mesmo. “São loucos por ele”, diz. A que a Cris questiona já decepcionada: “Mas, ele é gay?”. Tranquila e moderna a Néia nega com um menear de cabeça. “Que nada! Não quer nem saber dos moços.”.
E depois a gente pensa que é moderno?! Moderna é a Néia!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Envelhecer

Esta semana fui ao lançamento da nova coleção de jóias contemporâneas da elegantérrima Adriana Beigel, cliente que virou amiga. Somos da mesma faixa etária, mas, como Adriana viveu por mais de dez anos em Portugal, não nos conhecíamos embora tenhamos muitas amigas em comum.
Lá, em meio a lindas pedras, ouro, prata e peles, encontrei duas colegas de adolescência – da mais tenra fase da adolescência. Estudamos juntas no Positivo Jr. em meados dos anos 80, auge do pop rock. A dupla – de irmãs – era punk. Eu - que estava acompanhada de minha fiel escudeira e amiga desde então – era new wave. Minha amiga estava entre o punk rock e o new wave, pois namorava um roqueiro da turma delas.
De lá pra cá, apenas uma coisa mudou: não nos dividimos mais em tribos. Estávamos lá, ecléticas. Quase tão ecléticas quanto nossos filhos. Não se pode mais falar na turma disso ou turma daquilo. Os jovens são um mix de tudo-ao-mesmo-tempo-agora. Que bom! Não dá para saber se eles são do funk ou do reggae, sertanejo ou country, lounge ou hip-hop. De São Paulo, Curitiba ou Tóquio. Podem ser tudo isso e ainda vestir Levi´s.
Diferentemente da gente nessa idade. Lembro tão bem: quem usava Ocean Pacific era do surf e ponto final. Vestiu Fiorucci, era patricinha. E (que horror!), beijou na boca sem estar namorando, era galinha.
Mas, voltando à última terça. Lá estávamos nós, nos sentindo como se os anos 80 tivessem sido minutos atrás, nos achando tão jovens quanto éramos. Em menos de 15 minutos de conversa, percebemos que não somos mais modernas como um dia presumimos ser. A preocupação era a mesma. “Hoje eles fumam maconha com 12 nos. Aos 15 já querem saber de uma balinha”, diziam as amigas punks preocupadas com seus seis filhotes. “Pois é...”, repetíamos horrorizadas, as new waves mães de outros quatro.
Lembrei-me do meu pai reclamando - por trás de um risinho paciente - ser imprescindível em meu currículo musical conhecer a letra completa de La vie em rose, sob a minha afirmação veemente de que não me faria falta nenhuma tal conhecimento, já que eu seria new wave e só amaria B´52s a vida inteira. “Você pode até não gostar, mas tem de conhecer”, insistia.
Pois é. Fiquei velha. Continuo amando Private Idaho, mas adoro cantarolar La vie em rose. Estou, pacientemente, esperando a minha hora de dar aquele sorrisinho de meu pai. A pena é que, quando ele chegar, já terei muitas novas rugas – bem mais do que as poucas com que brigo hoje com meus trinta e todos.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Auto-ajuda

Dia desses, passeando com meu filho mais velho, de 4 anos, na Fnac, sentamos na sessão de livros infantis e enquanto ele deliciava-se com dinossauros, animais marinhos e aqueles livrinhos incríveis que mostram o interior dos dragões e de todos os monstros mitológicos, resolvi passear pelas prateleiras da sessão destinada às meninas da mesma idade.
Não preciso perguntar a vocês qual era a cor predominante em TODAS as capas – era, é claro, o cor-de-rosa. Nem tampouco preciso dizer que o tema absoluto girava em torno da chegada do príncipe encantado. Meu Deus!!! Pobres de nossas meninas que, como nós, continuarão acreditando nos príncipes e pouco, ou muito pouco, saberão sobre as eras em que os dinossauros habitaram a superfície terrestre...
O pior, para mim, não foi isso. O final das três ou mais estorinhas de princesas que li era o mesmo... Elas casavam-se com os príncipes e viviam felizes para sempre!!! Por favor, que a indústria da moda impeça que qualquer peça de roupa infantil seja unissex, eu até compreendo...Mas as editoras de livros infantis tinham que se ligar que em poucos anos essas serão as suas consumidoras – que deixarão de comprar literatura para se acabar na auto-ajuda barata!!!
Dia desses, passeando com meu filho mais velho, de 4 anos, na Fnac, sentamos na sessão de livros infantis e enquanto ele deliciava-se com dinossauros, animais marinhos e aqueles livrinhos incríveis que mostram o interior dos dragões e de todos os monstros mitológicos, resolvi passear pelas prateleiras da sessão destinada às meninas da mesma idade.
Não preciso perguntar a vocês qual era a cor predominante em TODAS as capas – era, é claro, o cor-de-rosa. Nem tampouco preciso dizer que o tema absoluto girava em torno da chegada do príncipe encantado. Meu Deus!!! Pobres de nossas meninas que, como nós, continuarão acreditando nos príncipes e pouco, ou muito pouco, saberão sobre as eras em que os dinossauros habitaram a superfície terrestre...
O pior, para mim, não foi isso. O final das três ou mais estorinhas de princesas que li era o mesmo... Elas casavam-se com os príncipes e viviam felizes para sempre!!! Por favor, que a indústria da moda impeça que qualquer peça de roupa infantil seja unissex, eu até compreendo...Mas as editoras de livros infantis tinham que se ligar que em poucos anos essas serão as suas consumidoras – que deixarão de comprar literatura para se acabar na auto-ajuda barata!!!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Presentear

Você já parou para pensar o quanto é bom presentear alguém? Pois é, dia desses reservei a sexta-feira para assistir à palestra do Lama Padma Samten (aliás, MARAVILHOSO) e ele falou do assunto de forma brilhante: o presente chega às mãos do destinatário lindo, embalado. A fita, uma vez desatada, vira lixo. O papel que envolve a caixa, lixo. A caixa que leva o presente, lixo. E, algum tempo depois, por fim, o próprio presente vira lixo. O que é que fica? Fica a sensação prazerosa de quem fez o agrado e, quando o merecedor é dos mais atentos, fica também com a gentileza daquele que escolheu o presente.
Entendi, finalmente, porque gosto tanto de presentear!
O mais curioso e triste desta recente descoberta foi que, no dia seguinte à palestra, perdi uma das mais hábeis presenteadoras que conheci. Foi-se, aos 79 anos, a vizinha da vida inteira dos meus pais - Dona Teresa. Viúva, avó de dois netos muito legais, Dona Teresa não perdia uma oportunidade de presentear. Fazia um bolinho da graxa - passava imediatamente uma travessa pelo muro. Descobria uma receita nova de salgado, e estava garantido nosso chá da tarde. Aniversário - qualquer aniversário da casa -, era batata. Por volta das 17h30, 18 horas chegava ela toda alegre, cheirando a lavanda, com um pacotinho na mão. Escolhido a dedo, vinha um pano de prato, uma camisola fofinha, um chinelo confortável, um prato decorativo, um brinquedo para as crianças e assim era. Não passava um mês sem que ela trouxesse algo entregue com um caloroso abraço satisfeito.
Hoje choramos, todos, o sétimo dia de sua ida para o lado de lá. Contou-me cheio de lágrimas, o neto mais velho que encontrou no armário muitos, muitos presentes. Um bem recente para o João Guilherme, meu pequeno, e bolachas de Natal já embaladas e nominadas para minha mãe, minha irmã e para mim. Ele vai esperar as datas para entregá-los. Aprendeu a lição da avó.
A breve e sincera conversa foi melhor que o sermão do padre sobre a vida eterna. Taí, nos presentes da Dona Teresa que o Aguinaldo vai entregar com a mesma satisfação quando chegar a hora, a melhor definição da vida eterna.